“Duas Missões” por Andreza Castro

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Duas Missões

Andreza Castro

Arata, quando jovem, sonhava em terminar o ensino médio, concluir uma faculdade, ter um bom emprego, casar-se e ter filhos… com 25 anos, fazendo sua segunda pós-graduação (o que pra ele é coisa de quem não tem emprego) e trabalhando como estagiário, sente-se que não tem mais jeito.

Certo dia, voltando de uma reunião com os amigos…

Na reunião

Yang contou que foi promovido para um cargo mais alto na empresa que trabalha.

Usui os convidou para seu casamento que acontecerá em 2 semanas.

Ikura deu a notícia que será pai pela segunda vez.

Quando chegou a vez de Arata contar suas novidades, sentiu-se completamente frustado e envergonhado.

Durante todos os anos após ter terminado o ensino médio, seus amigos alcançaram seus objetivos, porém, Arata permanecia em sua vida sem mais expectativas. Ele não queria contar para seus amigos que é apenas um estagiário que mora sozinho em um quarto.

fui promovido!

Respondeu com o máximo de convicção que conseguiu reunir naquele momento. Todos comemoraram, mas no fundo, Arata sabia que aquilo não passava de uma mentira.

Quando finalmente a reunião acabou e ele agradeceu a Deus por isso, no caminho de volta, é parado por dois jovens bem vestidos. Um tinha cabelos louros e o outro cabelos escuros. Eles o cumprimentou chamando-o pelo nome, para o espanto de Arata, pois nunca tinha visto aqueles caras em sua vida. Arata os cumprimentou de forma retórica e logo quis saber como os dois jovens (pois ele notou que pareciam ser mais novos que ele) sabiam seu nome.

Os dois sorriram e ao invés de responder “como”, eles começaram a contar toda a história da vida de Arata. Neste momento, ele pensou ser alucinações, pois eram coisas de sua vida, que a não ser ele mesmo, ninguém mais sabia. Aquela reunião não me fez bem, ele pensou. Voltou a caminhar em direção a sua casa como se nada daquilo realmente tivesse acontecido, tentando se convencer de que tudo não passara de coisa da sua cabeça.

não somos alucinações!

Ele ouviu a voz de um deles falar em um tom descontraído. Arata virou-se rapidamente para trás com os olhos arregalados.

o que vocês querem comigo? São algum tipo de fantasma, por acaso?

Gritou para os dois jovens. Ambos sorriram e pediram para que se acalmasse, eles só estavam ali para ajudar. Arata resolveu ouvir o que eles tinham para lhe dizer, afinal, não encontrou outra alternativa.

Os dois jovens se apresentaram, o de cabelo claro se chamava Cooper e o outro de cabelo escuro era o Akamaro. Eles lhe ofereceram a solução para os problemas de Arata, porém, ele teria que passar por um teste durante 1 ano, o mesmo teria que voltar para o ano de 1846 e somente se o teste fosse feito até o final, aqueles problemas seriam resolvidos. Ele negou rapidamente, aos seus ouvidos, os dois jovens estavam apenas zombando dele. Os jovens não insistiram, apenas pediram para que ele levasse uma caixinha com um comprimido para casa e se ele mudasse de ideia, era só tomar. Guardou no bolso a caixinha e seguiu o caminho de casa. Quando chegou em casa, deitou em sua cama, completamente sozinho, ele tirou a caixinha do bolso.

voltar para 1846, que piada!

Disse a si mesmo e tomou o comprimido. Ele tinha certeza que aquilo era só uma brincadeira.

Ao amanhecer, abriu os olhos e viu que tudo estava como no dia anterior, sorriu sozinho e começou a se aprontar para começar mais um dia. Suspirou antes de abrir a porta, saiu de olhos fechados sentindo a brisa (mais fria que o normal) tocar seu rosto.

AHHHHHHHHHH…!!!

Arata agora não via mais pessoas andando corcundas olhando para seus celulares, nem carros com alta tecnologia… as mulheres vestiam vestidos longos e uma espécie de touca na cabeça que Arata nunca vira antes, os homens, não tinha nenhum de jeans, e usavam chapéus, suas barbas eram compridas, parecia que quanto mais compridas eram, mais filhos tinham. Ele pensou estar sonhando, a conversa da noite passada o tinha deixado maluco. Fechou os olhos de novo e virou-se para a porta de onde tinha saído, mas quando abriu os olhos, não havia mais porta ali. Arata começou a bater na parede sem pensar no que estava fazendo. Sentiu uma mão sobre seu ombro, ao virar assustado, viu Akamaro em pé em sua frente.

então você tomou!

Akamaro confirmou com um sorriso tranquilo no rosto. Arata logo questionou a tranquilidade de Akamaro e quis saber o motivo de estarem ali, em 1846. Akamaro explicou que aquilo serviria de experiência para a Arata e ele estaria junto para observar  a sua evolução durante 1 ano.

Akamaro esperou Arata terminar de surtar e o levou para um acampamento de pioneiros, onde dali em diante, ambos estariam até o fim do teste.

Chegando lá, Arata percebeu que havia muitas famílias, que apesar do frio intenso, elas pareciam contentes de estarem ali naquele acampamento. Akamaro explicou que todos aqueles, inclusive Arata agora, eram pioneiros (d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias), que estavam indo em rumo a “Nova Jerusalém”.

Ao se reunir com aquelas pessoas, ele notou que suas vestes agora era como a de todos ali. Ainda não sabia se tudo era um sonho ou estava mesmo vivendo como pioneiro em 1846. Ele entendeu que as pessoas acreditavam que Deus falava com elas através de um Profeta chamado Joseph Smith. Para Arata, era fácil aquelas pessoas acreditarem nas palavras do Profeta, estavam sofrendo e precisavam de alguma esperança. Joseph Smith parecia dar-lhes essa esperança.

Seu primeiro mês no acampamento foi um dos mais difíceis. Ele se recusava a acreditar que tudo daria certo para eles no final, era improvável demais para sua mente. Em seu segundo mês, aconteceu algo que ele chamou de “o impossível”, mas para Akamaro era um milagre. O primeiro milagre.

Na manhã do último dia do mês, estava acabando o turno de Arata, ele passara a noite acordado vigiando as barracas do lado leste. Sentado, assoprando os mãos que estavam congeladas, Akamaro parou em sua frente e o chamou para uma emergência. Arata não entendeu como ele poderia ajudar, mas mesmo assim, foi com Akamaro. Um dos membros do acampamento estava à beira da morte, pois deixara de comer por 3 dias para dar um pouco mais de alimento ao seus filhos. Arata não via solução para aquele problema, aquele membro precisaria de mais alimento, alimento suficiente para se saciar e manter-se vivo. A reserva de alimentos que tinham era para 5 dias e precisavam alimentar todos do acampamento. Não tinha comida suficiente para isso. Arata não sabia o porquê, mas tirou alguns grãos do bolso que deixou da janta da noite passada para o almoço do dia seguinte, outra coisa que também não sabia o porquê. Ele tinha certeza que Akamaro, diferente dele, saberia o que fazer com os grãos, então entregou a ele. Akamaro expressou sua gratidão a Arata com um largo sorriso. Arata apenas assistiu o que Akamaro e os outros membros fizeram. Um deles colocou os grãos dentro de uma panela desgastada que as mulheres usavam para preparar as refeições, eles fecharam a panela e um deles fez uma oração. Arata sentia uma sensação de que seu coração estava inchando dentro de si, sentiu-se honrado e feliz ao ouvir seu nome no meio dos agradecimentos à Deus naquela oração. Após o “amém”, ele foi para mais perto, queria ver com os próprios olhos o que estava prestes a acontecer. Akamaro pediu a Arata para tirar a tampa da panela. Ele se assustou com a quantidade de comida que aparecera dentro da panela. A alegria estava estampada no rosto de todos, até mesmo de Arata.

Durante todo o dia, pessoas iam até ele para agradecer, a cena da panela cheia se repetia várias e várias vezes. A partir desse dia, Arata começou a ter um olhar diferente para o que estava acontecendo e decidiu viver completamente o seu 1 ano de experiência como pioneiro. Muitos outros milagres aconteceram e Arata esteve presente em muitos deles. O desejo de ajudar aumentava a cada dia e quando lembrava que seu teste estava chegando ao fim, sua tristeza era notável. Fora muito bem aceito entre os pioneiros e fizera muitas amizades, mas sabia que ninguém de fato lembraria dele.

as pessoas não vão lembrar de você, Arata. Mas vão lembrar que existiu um homem que deu tudo de si para os ajudar, os sentimentos permanecerão para sempre.

Falou Akamaro durante uma conversa com Arata.

Estava sentado ao lado de Akamaro, seus pensamentos não estavam naquele lugar, em 2018. Ouviu o barulho de uma porta abrindo.

Arata!

Ele reconheceu a voz, era o Cooper. O acompanhou até o escritório de onde Cooper tinha saído. Sentou em uma cadeira de frente para uma mesa onde Cooper foi para trás. O teste de Arata foi aceito, ele passou com sucesso, mas a notícia não o alegrou muito. Cooper o informou que ele poderia escolher o emprego que quisesse e começar sua nova vida. Arata não conseguia pensar em nada, ele queria continuar ajudando pessoas. Cooper então teve uma ideia, mas não acreditava que Arata aceitaria.

eu aceito!

Arata respondeu sem pensar duas vezes. Saiu da sala para contar a Akamaro e viu uma jovem mulher, logo ela entrou no escritório onde ele tinha acabo de sair.

2 anos depois, como missionário retornado, Arata reencontrou a jovem mulher que tinha visto quando terminou seu teste como pioneiro. Ambos tinham sido pioneiros, mas não se lembravam um do outro.

Sua perspectiva de vida havia mudado, ele entendera que antes do seu teste, ele não estava preparado para ter um bom emprego, casar-se e ter filhos como desejava.

Agora, trabalhando na área que desejava, com esposa e filhos, se preparavam para o dia em que reencontrariam os amigos que fizeram em 1846 no acampamento dos pioneiros.